sábado, março 25, 2006

Coincidências existem?


Da série "Crônicas inesquecíveis já quase esaquecidas", ressuscito um texto não tão antigo, mas que eu gosto muito por ter misturado um questionamento anterior, com mnha leitura na ocasião e um fato naquele presente.

Coincidência, ou "co-incidência", remete a eventos simultâneos - ou próximos em tempo - de alguma forma correlatos. Correlatos realmente ou apenas uma manifestação do aparelho psíquico tentando chamar nossa atenção?

Venho da leitura recente do livro "Os olhos do Outro", uma análise biográfica e literária de E.T.A. Hoffman pelo psicanalista Oscar Cesarotto. Discute-se a noção da auto-imagem em outro corpo, o eu refletido como na história de Narciso. Sigmund Freud, em "Das unheimliche", nos apresenta a interpretação do conto "Homem de Areia", de Hoffman, como exemplo do seu conceito de "estranho", ou "sinistro, como costuma ser traduzido para o português. O encontro com o Outro é uma freqüente causa de estranhamento, tanto na literatura como na "vida real". Já começa com o espelho, única representação de nós mesmos, que nos mostra uma imagem invertida. A nossa direira é a esquerda "dele". Se somos destros, "ele" é canhoto. Quer coisa mais estranha?

Com todas essas definições tão frescas na cabeça, estava eu hoje no hospital, já tomando o caminho do estacionamento para ir embora, quando me vejo eu próprio logo adiante andando em outro corredor. "Estranho" é o mínimo que Freud poderia ter dito.

Meu tipo físico não é dos mais extravagantes, e várias vezes me surpreendi com alguém parecido comigo. Na faculdade perguntavam se eu era irmão de um tal Haroldo. Quando o conheci, por acaso, soube logo quem era. Já me vi no retrovisor, dirigindo o carro de trás. E até na formação dos Los Hermanos tenho meu Outro, sentado atrás dos teclados. Em algumas fotos da banda, chego a pensar que sou eu ali, não pelo sonho de ser músico, mas pela parecença física.

Por isso eu pergunto: será que dessa vez o encontro chamou minha atenção porque eu acabei de ler o livro? Será eue eu não passo por ele todo dia e só dessa vez eu estranhei?

Ele usava óculos, eu também. Meu topete é repartido à esquerda, o dele à direita, exatamente como eu me vejo no espelho. Ele estava no telefone celular, não sei com quem, e eu tentava falar com uma amiga, residente de Radiologia. Saí um pouco do meu caminho e cheguei mais perto. Achei que ele fosse reparar, tão fixamente eu olhava. Mas deu às costas e eu voltei ao meu caminho até o carro.

Tenho um Peugeot 206 vermelho. Algum espírito de porco me roubou a calota dianteira esquerda. Eu sempre lembro disso quando chego perto do carro, fica bem embaixo da porta do motorista. Esse modelo tem se tornado popular de uns tempos para cá, sobretudo na cor vermelha. Não chega a ser estranho eu encontrar três veículos semelhantes no mesmo bloco do estacionamento. Mas descobrir que o carro imediatamente à minha frente é um gêmeo sem a calota dianteira direita, como um espelho colocado á minha frente, ah, sim, isso é muito sinistro.

Só faltava o meu Outro ser o dono... Mas não, ele já tinha ido embora.

Eu teria reparado tudo isso não fossem minha últimas leituras? Talvez sim, talvez não; quem há de dizer com certeza? Mas certamente esses pensamentos esquisitos não estariam na minha cabeça.

1 Comments:

At 1:27 PM, Anonymous Anônimo said...

Bom, pensamento estranho na sua cabeça não é novidade, mas agora duplo? Salve-se quem puder.
Beijo, peste.

 

Postar um comentário

<< Home