Onde esperar o inesperado
Nos confins mais distantes de "Até Quando?", certa vez escrevi uma lista dos artistas mais injustiçados. A cultura pop (discutível até que ponto se pode chamar de cultura, mas tudo bem) não poupa ninguém, já dizia uma canção dos Engenheiros do Hawaii; muito menos aqueles que não vendem suas obras para os programas popularescos de televisão, que não fazem um jabá com as rádios. O maior definidor de qualidade hoje em dia é a capacidade de fazer sucesso, mas, paradoxalmente, isso não é sinônimo de qualidade. Ou seja: para ser (reconhecido como) bom, precisa vender; mas nem tudo que vende é bom.
Na minha lista, incluí a minha grande paixão no pop-rock americano, o Counting Crows. A banda formada nos corredores de Berkeley, CA apresenta um som indefinível, mistura de uma melancolia blues, mais suingado e elaborado com timbres diferentes de teclado, uso de abuso de Hammond e mellotron. Por muito tempo foi conhecida como uma "one-hit band", banda de um só sucesso. Desde a enxurrada de "Mr. Jones", terceira faixa do primeiro disco August and Everything After, de 1993, só conseguiu lançar um novo hit nas rádios com "Accidentally in Love"; e não por mérito próprio, mas sim porque a canção faz parte da trilha de Shrek 2. A música não é ruim, muito pelo contrário, mas é uma sombra do que eles fizeram em seus quatro discos de estúdio.
Outro dia escrevi sobre as séries produzidas pelo Jerry Bruckheimer... E pouco depois, assistindo Cold Case, fiquei extasiado quando percebi a música de fundo: "Time and time again", de Adam Duritz e companhia, contemporânea de "Mr. Jones". Essa é uma das grandes qualidades dessa leva de seriados policiais investigativos, que já mostraram "Everything in its Right Place", do Radiohead, durante uma caça a evidências na cena do crime; e até o post-rock islandês do Sigur Rós ilustrando, morbidez absoluta, uma necrópsia.
Outra música cantada pelo Counting Crows que também se pode ouvir ocasionalmente no rádio é a versão de "Big Yellow Taxi", composta por Joni Mitchell durante a hippice dos anos 60. A versão dos Crows consta do disco Hard Candy, de 2002, mas quem procurar por ela nos créditos não encontrará nada. Ela está escondida na última faixa, depois de dois minutos de silêncio. Precisa estar muito desatento para escutar. E ainda assim, sabe-se lá como e por quê, resolveu-se fazer divulgação da música que nem no disco está direito. A letra diz assim: "They paved paradise / and put up a parking lot / with a pink hotel, a boutique / and a swinging hot spot".
1 Comments:
"(...)mistura de uma melancolia blues, mais suingado e elaborado com timbres diferentes de teclado, uso de abuso de Hammond e mellotron.(...)"
Queria que vc ouvisse os om da minha banda e classifica-se de alguma forma coesa assim, para que eu pudesse colocar no nosso release... Pq eu mesmo num consigo classificar... De repente alguém "de fora" consegue.
Em tempo, eu gosto dos seriados do Jerry Bruckheimer. E tbm tenho vício em prestar atenção e pesquisar as músicas das trilhas de tudo o que vejo na TV. Das que vc citou, lembro exatamente da cena que rolou a "everything in its right place" (que, diga-se de passagem, está na trilha do filme "Vanilla Sky", que, diga-se de passagem tbm, tem uma trilha sonora incrível, coesa no sentimento que as canções passam, apesar de muito diversa no estilo das mesmas).
Abs,
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