Se eu fosse você
O que se espera de comédias românticas? Conteúdo é nulo, sem o menor questionamento filosófico, nada de ação, desenvolvimento clichê. Mas eles têm lá o seu lugar no cinema: são engraçados e divertem. Por isso filmes pseudo-cults não dão certo: o espectador quer dar risadas, desligar-se dos problemas do dia-a-dia.
É a diferença entre um "Wimbledon", com Kirsten Dunst e Paul Bettany, e "Um lugar chamado Notting Hill", com Hugh Grant e Julia Roberts.
De semelhanças entre os dois, podemos apontar todo o desenvolvimento do roteiro: duas pessoas absolutamente diferentes se conhecem, não têm nenhuma razão para se gostarem, mas com o tempo começam a se conhecer melhor e se descobrem apaixonados; até que até que surge um empecilho, alguém do passado ou uma incompatibilidade surpreendente, e o casal se separa; tudo para que nos últimos minutos, quando ela está a segundos de viajar, ele aparece e vivem felizes para sempre, the end. Uau, quem patenteou essa fórmula hoje está milionário, recebendo royalties de 95% dos filmes de Hollywood.
Mas Hugh Grant tem um trunfo nas mangas: o humor britânico, cínico, que despedaça o espectador de "Quatro Casamentos e um Funeral", "Um Grande Garoto", "O Diário de Bridget Jones"... Não são grandes filmes, não são revolucionários, seguem precisamente a mesma fórmula. Mas são terrivelmente engraçados.
Por outro lado, "Wimbledon" tem Kirsten Dunst, que será para sempre reconhecida como Mary Jane Watson, a menina por quem Peter Parker é apaixonado, enquanto ela morre de amores pelo Homem Aranha. É bonita, sim, muito bonita, mas nunca fez outro papel tão interessante. Além disso, as partidas de tênis (fundamentais num filme que pretende retratar um torneio de grand slam) não passam verdade. As falhas de roteiro são gritantes para quem conhece o esporte: na vida real, os atletas masculinos nunca jogam no mesmo dia das mulheres, o que compromete toda a verossemelhança do filme.
Hoje fui assistir "Se eu fosse você", de Daniel Filho, com Tony Ramos e Glória Pires nos papéis principais, e coadjuvantes como Thiago Lacerda, Glória Menezes, Danielle Winitz, Lavínia Vlasak.
O filme trata do conflito entre personalidades, no caso marido e mulher, através da fórmula já bastante batida desde "Quero ser grande", clássico com Tom Hanks: a troca de corpo entre duas pessoas que não se entendem e precisam viver o dia do outro para reforçarem o sentimento entre eles. Duzentos e cinqüenta mil filmes já foram feitos usando esse argumento; quem se aventurar numa nova releitura precisa de muita coragem e de um ingrediente novo. A comédia de situação é a praia da roteirista Adriana Falcão, e aqui ela - e seus colegas Daniel Filho, Renê Belmonte e Carlos Gregório - faz a festa.
A atuação dos protagonistas está perfeita. Apesar de à primeira vista a escolha de Tony Ramos e Glória Pires parecer propaganda da novela das oito, percebe-se durante o filme que foi bastante acertada. Ela faz um ótimo Cláudio, e ele faz uma ótima Helena. Os outros menos, salvando-se Thiago Lacerda; e perdendo a linha Danielle Winitz e Lavínia Vlasak, atrizes do mesmo eterno papel (gostosona e patricinha, respectivamente).
Mas quem conhece o Rio de Janeiro, especialmente a Barra da Tijuca, vai se impressionar com as idas e vindas de carro pelo bairro. Cláudio e Helena estão indo de casa para a escola da filha: passa o shopping, passa o shopping de novo, passa o shopping do outro lado... eles já estão voltando?! Passa o shopping, passa a praia, passa o quiosque, outra vez o quiosque, mais uma vez o quiosque, eternamente o mesmo quiosque, volta para o shopping... eles estão andando em círculos?!
Não dá para esperar muito de "Se eu fosse você". Mas duvido que saia do cinema sem grandes risadas. Mesmo que seja pela falha no cenário.
1 Comments:
Putz, Phla...lendo aqui me dei conta que preciso ir ao cinema...deve fazer uns 5 ou 6 anos desde a última vez...abraço.
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