terça-feira, fevereiro 07, 2006

Enquanto isso, no Velho Oeste...


Hoje em mais uma edição da série "Crônicas inesquecíveis já quase esquecidas", reproduzo uma análise da discografia de uma banda injustamente desconhecida no sudeste. O Bando do Velho Jack nasceu em Campo Grande - MS, e por aqui acho que só conhecemos eu e as pessoas para quem emprestei meus discos. Com vocês...

O bando do velho Jack está de volta... O que é isso, frase de filme western americano? Não, apenas uma constatação. O grupo sulmatogrossense O Bando do Velho Jack lançou recentemente o seu terceiro disco, com nome algo auto-biográfico: Como Ser Feliz Ganhando Pouco. A resposta é: com muito rock n' roll.

Estava eu no aeroporto de Campo Grande esperando o meu vôo de volta. Havia uma TV passando um monte de flashes randômicos, um anúncio de "não pesque na piracema", outro de "proteja seu gado contra a febre aftosa" ou ainda "aprenda a identificar a leishmaniose visceral". E no meio de um tanto de coisas que o pessoal da cidade grande não costuma se preocupar, apareceu uma apresentação da banda (ou do bando?) num programa acústico ao vivo. O visual me chamou a atenção: aqueles cabelos compridos, barbas por fazer e cara de mau me lembraram as bandas do rock sulista americano, tipo Lynyrd Skynyrd. Cheguei mais perto do aparelho para escutar melhor, e o som não decepcionou: era mesmo alguma coisa de Allman Brothers com The Band, ou coisa que o valha. Bem o estilo que eu costumo chamar de rock n' road, tipo trilha sonora de "Easy Rider".

Faltava pouco para eu chegar em casa: só o tempo de um vôo para São Paulo e de lá para o Rio. Mais o trajeto de carro e tal... umas 11h da noite eu poderia começar a pesquisar do que se tratava aquilo. E foi exatamente o que eu fiz. Google para que te quero, encontrei o site supralinkado e o da gravadora Top Cat Records, responsável pela distribuição dos discos. Lá, encontrei um campo onde poderia mandar mensagens para a gravadora. Perguntei sobre O Bando e como eu poderia conseguir os discos deles. Com inacreditável velocidade, eles retransmitiram a minha questão à própria banda, que me respondeu em e-mail assinado pelo baixista Marcos Yallouz.

Formou-se uma ponte internáutica Rio-Campo Grande. Nenhum e-mail ficava sem resposta por mais de 24 horas. E menos de meio mês depois, recebi pelo correio uma caixa com as três jóias do rock pantaneiro.

O primeiro disco chama-se "Old Jack", e oito regravações de sucessos do rock estrangeiro, das sulistas Born on the Bayou (Creedence Clearwater Revival) e Rock n' Roll Hoochie Koo (Johnny Winter) às britânicas Layla (Derek and the Dominos) e While My Guitar Gently Weeps (The Beatles), passando por muita coisa boa no caminho. A única música autoral é Cão de Guarda, rock de primeira que não faz feio perto dos gringos. O disco conta com a primeira formação da banda, com Alex Batata (guitarra/voz), Fábio Terra (guitarra/voz), Gilson Junior (teclado), Marcos Yalouz (baixo) e João Bosco (bateria).

Depois dele, veio "Procurado", um disco que ainda tem muitos covers de qualidade, mas também começa a mostrar o talento da banda com composição. Regrava Cream e Steppenwolf, referências óbvias ao som a que eles se propõem. Mas também traz uma versão mutante de Ando Meio Desligado, sem guitarras fuzz e com mais peso blues; e uma estranha Trem do Pantanal, música regional totalmente travestida de rock n' roll. No lugar de Alex Batata, assassinado ao tentar apartar uma briga de bar, entrou Rodrigo Tozzetti. Eles preferem dizer que Alex é insubstituível, e que a sua presença se sente em tudo o que fizeram desde então. O disco termina com duas faixas bônus, gravadas ao vivo no programa Som do Mato, da TVE/MS, ainda com a voz de Alex.

E cada vez mais o Velho Jack dá espaço para as composições próprias. O último disco, "Como Ser Feliz Ganhando Pouco", é quase todo autoral. É menos pesado, mas isso não faz dele menos interessante. O eterno vocalista é lembrado em Agora Falta Um, balada blues bastante sensível. O som também se enriqueceu de participações especiais: um acordeon aqui, uma cítara acolá... De trás dos teclados, Gilson se mandou e o seu lugar foi ocupado por Alex Cavalheri, projeto de Jon Lord. Não que o primeiro fosse ruim, muito pelo contrário, mas o instrumento passou a ter lugar mais importante na música.

Então é isso. A novidade veio de longe, e só veio porque eu fui para lá primeiro. Agora quem sabe vêm eles para cá? Uma turnê pelo Blues & Beer, Néctar e otras cositas más... nada mal!

1 Comments:

At 1:03 AM, Blogger Luiz Roberto Lins Almeida said...

é isso aí! como pantaneiro, não posso deixar de confirmar sua versão.
Os caras são mto bons.

 

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