sábado, fevereiro 25, 2006

O maior espetáculo da Terra


Já se passou uma semana do maior show de rock de todos os tempos e "Tente Outra Vez" ainda não se manifestou. É um forte sinal do fim dos tempos, profetizou Nostradamus. Pensou-se muito que aconteceria durante o Rock in Rio de 1985, e muitas mães não permitiram que seus filhos curtissem apresentações inesquecíveis de Yes, James Taylor, Scorpions e Queen. Mas se fosse realmente o fim do mundo, adiantaria eles estarem ali ou em qualquer lugar?

E o Brasil lá é tão importante assim para o fim do mundo começar em Jacarepaguá? Ora, mas essa gente é umbiguista demais! E se por uma vez não aconteceu, não seria nas tentativas seguintes: segunda e terceira edições do Rock in Rio; megashows de Roger Waters, Eric Clapton, Pearl Jam na Apoteose; U2 no autódromo de Jacarepaguá, o show que parou o trânsito do Rio, o mais próximo de apocalíptico de todos; Rod Stewart no réveillon de Copacabana; Lenny Kravitz também de graça... e agora, na mesma praia que recebe milhões para passar a virada do ano, o maior público para um show de rock de todos os tempos, Rolling Stones em Copacabana, desbancando a megaprodução de Paul Simon no Central Park.

Falta uma semana...
Faltam seis dias... cinco... quatro... três... dois... um...
É hoje à noite...
Não posso estar na rua à hora do show...
Tenho que chegar em casa...

Minha primeira idéia foi estar em Copacabana. Sairia da clínica (sim, trabalho sábado de manhã), almoçaria com meu pai e iria de alguma forma para lá. Como exatamente, não sabia, pois o metrô vendera bilhetes antecipados, os carros não chegavam nem perto, os ônibus já estavam lotados.

Desisti.

Em Copacabana, certamente não conseguiria chegar perto do palco. Assistiria a tudo por um dos telões dispostos na praia. O Rio Rock & Blues Club estava programando passar o show, transmissão da rede Globo, no telão. O clima de casa de show custaria R$10,00. Só pelo clima mesmo, porque a transmissão era de graça para todas as televisões do Brasil. Meu irmão ia com a namorada, e eu fiquei tentado a ir.

Desisti.

Minha namorada não iria, coisa de quem faria plantão no dia seguinte. Além do quê, em casa seria de graça; não com um telão, é verdade, mas de graça; só nos dois e mais ninguém, é verdade, mas de graça.

Fiquei em casa mesmo. E que show! Deu muita vontade de estar lá, de pular com aquela gente, de gritar , "But it's all right now Jumpin' Jack Flash", "I know it's only rock n' roll but I like it", "It's the honky tonk, honky tonk woman/ Gimme, gimme, gimme the honky tonk blues", "If you start me up I'll never stop", "I can't get no satisfaction"... Sobre o palco, mais rugas que a vã matemática pode contar; mas também mais preparo físico, mais disposição, que muita sala de academia por aí.

Há quarenta anos, talvez Mick Jagger, Keith Richards, Ron Woods e Charlie Watts não acreditassem que chegariam a sexagenários. Pois chegaram, e hoje compõem e tocam tanto quanto nos primórdios. No público de Copacabana tinha gente com idade de ter ido à apresentação no Marquee Club em 1961, assim como quem teria sido barrado no show de 1998 na Apoteose. Vovôs e vovós, papais e mamães, filhinhos, a família reunida para assistir à maior (ou pelo menos a mais longeva) banda de rock de todos os tempos.

Eu ainda não passei dos trinta, mas estou ficando velho. Há um tempo, jamais recusaria estar lá, no meio da multidão, gritando, me esgoelando, pulando, suando. No Rock in Rio 3, o último dia levou 500 mil pessoas para assistir Silverchair e Red Hot Chili Peppers, e eu estava na Cidade do Rock. E o maior show de todos os tempos, a uns 30 km da minha casa, assisti da tevê.

Sinal dos tempos.
Mas eu ainda volto a fazer dessas doideiras, podem acreditar. Nâo sei se eu mesmo acredito, mas prefiro acreditar que sim. No dia que eu duvidar, compro uma caixa com a coleção completa de Chitãozinho & Xororó.