Programa de índio, no bom sentido
A mesa paraense não pode dispensar uma panelada de pato ao tucupi, herança da culinária indígena. Não sei se o que eu comi seguiu essa receita, mas não tem como ir muito além disso. De todos os ingredientes, os principais são o pato, personagem principal; o tucupi, uma espécie de sumo da mandioca amassada, o coadjuvante de luxo; e o jambu, mato adormecedor de língua, o antagonista.
Ingredientes
1 pato novo (de 1,5 a 2kg)
20 g de cebola bem picada
4 dentes de alho amassados
salsinha picada
1 folha de louro
25 ml de vinagre de vinho branco
suco de 1 limão
sal e pimenta a gosto
4 colheres (de sopa) de azeite de oliva
noz-moscada ralada
4 xícaras de tucupi (800 ml)
folhas de jambu, chicória e alfavaca
Modo de preparo
Na véspera, cortar o pato nas juntas (dividir a carcaça em partes bem bonitas). Colocar numa tigela e temperar com o alho, a cebola, o vinagre, o louro, a noz-moscada, o azeite, o sal e a pimenta. No dia seguinte, colocar os pedaços de pato com o tempero numa assadeira e levar ao forno preaquecido, em temperatura média (180ºC), para assar, durante aproximadamente 35 minutos ou até que fiquem dourados. Retirar do forno.
Numa panela grande, ferver o tucupi, a chicória e o jambu. Acrescentar o pato e deixar cozinhar até a carne ficar bem macia, mas sem se desfazer (20 a 30 minutos).
Sônia, mãe da Sabrina, é paraense. Ainda hoje, tanto tempo sem voltar à sua terra natal (digo, Belém... Natal é Rio Grande do Norte), cultiva oa velhos hábitos gastronômicos dos antepassados. Pato ao tucupi não é prato de dia-a-dia, porque não é fácil - nem barato - achar farinha d'água, acompanhamento obrigatório, e o próprio tucupi no Rio de Janeiro. Mas vez ou outra se faz um almoço de domingo mais diferente, e lá está o pato assado na mesa.
A comilança começou com patas de caranguejo. Dá trabalho, mas é recompensador. Aliás, é por isso que hoje em dia somos, em média, mais gordos que antigamente: a nossa comida dá menos trabalho. É mais fácil abrir um saco de biscoito, esperar dois minutos para a pipoca estourar no microondas, do que catar frutas, caçar a carne, destrinchar o animal. O caranguejo nos leva para esses tempos, quando os índios do litoral, substituídos hoje pelas populações de manguezal, como em Guaratiba, se metiam na lama atrás do almoço.
O coco deu a água de beber e a carne para sobremesa. Fruta originária da Índia, acreditam os biólogos que tenha vindo para o Brasil a nado, flutuando pelas correntes marítimas até a costa do Nordeste brasileiro. Pois os coqueiros, dependentes de clima quente e úmido, já estavam bem estabelecidos quando os portugueses aqui chegaram.
A refeição indígena, mistura de tribos litorâneas e amazonenses, seguiu tranqüila. Só espero que não pretendam fazer um dia um cardápio antropófago, comigo como prato principal. Qual "João e Maria", podem estar planejando a minha engorda para os dias futuros. Que pelo menos até lá eu coma tão bem!
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