sexta-feira, março 10, 2006

Órfãos do rock

Tudo sempre acaba bem; e se não está bem, ainda não acabou. Será? Pois se a máxima é verdade, a rádio Cidade está para dar a volta por cima e reconquistar a freqüência de 102,9 MHz FM do dial carioca. Uma da poucas sombras refrescantes no deserto musical que se instalou, a estação, na virada do mês de fevereiro para março, foi substituída por uma tal Oi FM.

A memória número 1 do seletor do meu carro já foi devidamente trocada. Não tem apreciador de boa música que agüente as baboseiras que tocam dia e noite na tal Oi. Que Oi que nada; antes fosse Tchau!

De tempos para cá as emissoras de rádio vêm sendo seladas, rotuladas, etiquetadas, pelo tipo de som que tocam e pelo público-alvo que desejam atingir. A Cidade era a Rádio Rock, slogan da 89 FM de São Paulo, responsável pela programação; as outras que prestam agora se contam nos dedos de uma mão, a direita do Lula: na ordem atual do meu seletor, temos a 95,7 Paradiso FM, com um pouco de tudo; a 90,3 MPB FM, de música brasileira de todo tipo; a 98,9 Rádio MEC, de música clássica, nova memória desde o infortúnio; a 101,3 Transamérica, na qual é difícil achar o que preste, mas muito de vez em quando eles se superam; e a 103,7 Antena 1 Light FM, em que só toca música do tempo dos meus avós (o que não é necessariemente ruim).

A Rádio Cidade surgiu em 1977, um ano mais velha que eu. Foi, nos anos 80, junto com a 94,9 Rádio Fluminense, uma das divulgadoras do incipiente rock nacional. De lá para cá mudou de cara várias vezes, ao sabor do gosto musical imposto aos adolescentes, o rock que virou dance que virou eletrônico que voltou a ser rock. A última mudança, há dois anos, foi tão radical, quea rádio, por causa da filiação com a 89 FM paulista, passou a adotar nova certidão de nascimento. Apesar de em todo esse tempo não ter mudado de nome.

E agora me vem a tal Oi FM. Maldição!

A Fluminense voltou e já foi embora, dando lugar para a BandNews. A Globo FM também saiu do dial em troca por uma estação de notícias, a CBN FM. As rádios boas desaparecem, espectro se enche de jornais e evangélicos. O blablablá adolescente ainda pode ser ouvido na Transamérica, Jovem Pan, e agora na nova Oi.

No site da rádio, a notícia é assinada por Marcio Morais, gerente de internet. Em seu texto, Marcio parece ter-se inspirado na carta-testamento de Getúlio Vargas para dizer que a rádio não morreu, que continua a trasmitir pela internet: "a melhor rádio do Rio deixa de ser apenas local e passa a ser mundial", uma auto-estima análoga ao deixar a vida para entrar para a História.

Que pena, eu não tenho computador no eu carro!