quinta-feira, março 30, 2006

O Jogador de Boliche


No tocante a Deus, todas as posições possíveis são religiões. O ateu mesmo, ou o agnóstico, meu caso, não escapam a essa generalização. Nada permite confirmar ou refutar a noção de uma figura criadora do universo, o Grande Matemático inventor das Leis da Física, o Grande Biólogo fundador do Criacionismo, o Grande Químico responsável pela união dos átomos em moléculas, das moléculas ácidos nucléicos, patenteando, assim, a complexidade. Mas enquanto não puder ser mostrado que existe - e eu não imagino como um dia possa - e essa existência fizer alguma diferença para mim, prefiro ficar, no meu canto, respeitando todos os outros e crendo na aleatoridade dos acontecimentos primevos.

Tenho amigos de quase todas as religiões, católicos, judeus, protestantes - só não conheci um muçulmano até hoje -, e inclusive já fui a (e gostei) um templo hare-krishna. Todos me acharam louco à ocasião. Mas para mim é a mesma coisa que ir a igreja num casamento ou ir a uma igreja batista ver uma amiga cantar no coral (o que também já aconteceu). Convide-me e eu vou - só não tente me converter.

Da mesma forma, certa vez fui visitar minha tia Maria, ou Irmã Sodré, no Cenáculo, em Laranjeiras. Irmã da minha bisavó, sagrou-se freira há mais de 60 anos, morou em vários lugares e se fixou num convento em Belo Horizonte. Apenas recentemente, depois dos 80 anos, deixou de vir para o Rio de Janeiro dirigindo seu próprio carro. Até então ainda pilotava, inclusive, os tratores da obra de reforma do convento. Participante ativa da vida religiosa, parou de dirigir veículos, mas continuou dirigindo os programas de assistência religiosa e social à população vizinha, em cursos de costura e trabalhos manuais.

Segundo Albert Einstein, "Deus não joga dados". Pode ser, mas tudo indica que Ele seja um Grande Jogador de Boliche. Garrafa a garrafa, vai derrubando a Humanidade, substituindo por peças mais novas, recém-nascidas, que, crescendo e envelhecendo, acabarão virando garrafas caídas na canaleta. Uns acham que os mortos vão para o céu, para o inferno, que não saem jamais debaixo da terra, que são recebidos por vinte virgens... Eu, pessoalmente, não acredito em nada disso; mas penso se não acontece com cada um aquilo em que ele acreditava antes em vida.

Depois de uma breve internação, tia Maria, 91 anos, agora está conversando com sua irmã, minha bisavó Etienne, depois de tanto sentir não poder estar aqui quando ela morreu.

1 Comments:

At 2:18 PM, Blogger Leila Silva said...

Phla,

Excelente! Jogador de boliche?! Vá saber, né?
Como vc, eu tb já fui pra todo lado, já visitei templo, sinagoga, mesquita...e nada me apetece, mas tento respeitar. Tento. E cada um na sua. Muitos religiosos não respeitam a religião do outro e muito menos a opção pelo ateísmo ou agnosticismo. Muçulmanos eu conheço aos montes, tenho amigos muçulmanos e me entendo bem com eles. De vez em quando, como todos os religiosos, eles soltam umas coisas que para mim são completamente descabidas. Mas cada um tem uma maneira de viver a sua crença também, há católicos e católicos, muçulmanos e muçulmanos. É melhor não julgar mesmo.
Abraços

 

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