terça-feira, abril 04, 2006

Descobrindo-se louco


Hoje eu não acordei
Havia em meu leito uma pedra
Rígida, fria, definitiva
Aquilo não era eu
Definitivamente

Olhei para dentro de mim
Havia ali deitado um corpo
Imóvel, impávido, absoluto
Aquilo não era meu
Absolutamente

Será não sou eu
Quem eu penso que sou?
Próprio, único, inquestionável
Senhor do que aconteceu
Inquestionavelmente?

Será que tudo que eu sei
Somente eu acho que sei?
Será que eu não sou rei?
Será que tudo que eu vejo
Somente eu acho que vejo?
Será de mim esse gracejo?

Se escuto meu cérebro em prantos,
Se vejo meus internos cantos,
Se escondo os terríveis encantos...
Será que somente eu acho que sei?

Hoje eu não acordei
Atado que estava da cabeça aos pés
Teso, inerte, inviolável
Não sei o que me prendeu
Inviolavelmente

Fantasmas no escuro
Vejo-os, ouço-os ao meu redor
Plácido, tranqüilo, atento
Escuto as vozes no breu
Atentamente

Fantasmas do futuro
Meu destino já sabem de cor
Íntimo, secreto, pessoal
Destino que não é meu
Pessoalmente

Imagem: O Grito, Edvard Munch

2 Comments:

At 11:09 PM, Anonymous Anônimo said...

DE vez em quando e bom descobrir-se poeta.
Grande abraco!

 
At 4:30 PM, Anonymous Anônimo said...

Muito bonita, phla, bonita mesmo.

Também li "contos fantásticos no labirinto de borges"' e achei "o abacaxi de ferro" simplesmente o máximo!O melhor conto do livro.

Um beijo e parabéns pelo blog.

 

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