sábado, setembro 16, 2006

"A cidade é suja"

No banheiro do Hospital de Clínicas Dr. Aloan se lê uma breve inscrição colada na parede: "O lugar mais limpo não é o que mais se limpa, mas sim o que menos se suja". Não podia ser mais correto. A limpeza tem um equilíbrio frágil, e qualquer alteração no meio pode ser fatal, gerando sujeira num padrão de feedback positivo. Se, em sujando, você limpar logo, o próximo vai se sentir obrigado a fazer o mesmo; mas, por outro lado, tendo encontrado um ambiente sujo, quem terá pena de deixá-lo um pouco mais sujo.

Analisemos, então, a frase-título: como compreendê-la?
"A cidade" - sujeito; "é" - verbo de ligação; "suja" - predicativo do sujeito.

Segundo essa análise sintática, no entanto, a culpa semântica da sujeira recai sobre a cidade, enquanto na verdade ela é apenas uma vítima.

Lembremos, então, que "suja" é não somente um adjetivo, mas também a forma irregular do particípio do verbo "sujar". Sob esse ponto de vista, cria-se a estrutura de uma oração na voz passiva, com o agente da passiva "pelos homens" oculto.

Assim é possível conjugar coerência sintática e semântica com a realidade: a cidade não é capaz de se sujar sozinha, e se há lixo nas ruas, e urina no chão dos banheiros, e poluição nos rios e mares, a culpa não é senão de seres humanos. Não diria porcos, porque nem os porcos são capazes de tanta destruição do meio ambiente.