quarta-feira, janeiro 04, 2006

O que é Taryn?


Taryn não é Billie Holiday.
Taryn Não é Ella Fitzgerald.
Taryn não é Janis Joplin.
Taryn não é Mama Cass.
Taryn não é Elis Regina
Taryn não é Donna Summer.
Taryn não é Cássia Eller.

Taryn não é, nem tenta ser, ninguém além de Taryn Szpilman.
É filha de Marcos Szpilman, maestro da Estácio Rio Jazz Orchestra, mas conseguiria o que quisesse apenas com a sua voz. Ser reconhecida por e cantar junto com músicos do nível de Andy Summers, guitarrista do The Police, Victor Biglione, Roberto Menescal, Zeca Baleiro, George Israel, entre tanta gente de gabarito nos mais diversos estilos. Mas chega um ponto em que a referência é inversa: não tardará o dia em se falará de alguém como "aquele que toca com a Taryn".

Conheci Taryn, não num night-club, nem numa casa de espetáculos, mas na sala de aula do 2º grau do Centro Educacional da Lagoa. Já era uma figura diferente, e enquanto pensávamos em nos tornar médicos, engenheiros, advogados, administradores, ela já tinha a certeza de ser uma estrela. Não por pedantismo ou metidez, mas pela confiança naquilo que tinha de melhor: sua voz.

Nascida em família com o DNA escrito em pauta musical, seu talento foi reconhecido e estimulado pelo pai. A primeira vez que a vi cantar, foi uma total surpresa: minha mãe me convidou para uma apresentação da Rio Jazz Orchestra no Mistura Fina. O setlist pretendia ser uma espécie de resumo do jazz no século XX. Na última música, já no bis, o maestro Szpilman teve a honra de chamar ao palco sua filha para, junto à orquestra, cantar "What's Goin' On", de Marvin Gaye. Surpreso por reencontrar ali, no palco, minha colega de turma; surpreso por ouvir uma música mais para o soul no repertório de uma banda de jazz.

Mais tarde, soube que Taryn se apresentava às tardes de sexta-feira no Rock in Rio Café, acompanhada por um teclado e uma guitarra, cantando os sucessos da disco music. Por muito tempo, eu e amigos do colégio íamos semana após semana, não para comer um sanduíche gigante, não para beber drinks coloridos, mas para ouvir aquela cantora que não queria ser Donna Summer ou Earth Wind & Fire, e sim dar àquelas músicas uma interpretação própria. Não ia mencionar que a gente subia no palco para fazer coreografias porque o objetivo é falar dela, e não pagar mico, mas enfim...

Às vésperas do Rock in Rio III - Por um Mundo Melhor, organizou-se uma Escalada do Rock, festival-concurso de bandas independentes e iniciantes que colocaria uma banda a cada dia da Tenda Brasil e levaria o primeiro lugar a abrir o último dia de festival. A banda Eletrofluminas, com Taryn no vocal, era voltado para o rock eletrônico, recheando com samplers e scratches composições de Led Zeppelin misturadas com uma sopa de músicas próprias, de Alceu Valença e tudo mais. Infelizmente, a apresentação na semifinal não foi das melhores, o som não ajudou, e não conseguiram se classificar para o festival. Mas a versão para "Black Dog" é antológica!

Quando a época disco já tinha acabado e ninguém mais falava de Rock in Rio café, reencontrei a Rio Jazz Orchestra por acaso num passeio pelo shopping Barra Garden. Ouvi um saxofone ao fundo, e quando fui procurar a origem, era a orquestra tocando na Praça de Alimentações. Foi quando eu percebi que ela já era praticamente um componente fixo da banda dirigida por seu pai. Ele não era bobo de perder uma voz daquela como crooner dos seus arranjos jazzísticos!

Não pude ir ao Centro Cultural Estácio de Sá quando Andy Summers veio tocar em parceria com Victor Biglione, e Taryn foi convidada para uma participação especial. Mas não perdi quando ela e Biglione prestaram, na mesma casa, uma homenagem aos blues-rock dos anos 60 e 70, num repertório que incluía Cream, Jimi Hendrix, Rolling Stones, etc.

A maior prova de sua versatilidade veio com o show em homenagem a Billie Holiday. Não poderiam ter encontrado melhor intérprete para essa apresentação da Estácio Rio Jazz Orchestra. Taryn alterna o canto em sua própria voz com falsetes imitando a diva do jazz norte-americano. Poderia soar forçado, mas não. Poderia engasgar na hora, mas não. Poderia... poderia tanto, mas o resultado não foi menos que perfeito. Na minha humilde e leiga opinião, esse show virasse DVD, seria sucesso até em New Orleans!

E tanto mais. Do jazz à múisica eletrônica, do blues à disco. Até chegou a participar da gravação, no Metropolitan (ou como quer ele se chamasse na época, eu vou sempre chamar de Metropolitan), de uma espécie de "We are the world" brasileiro, uma música pela inclusão social, ou coisa assim, com várias figuras importantes da música brasileira. Mas isso foi há dois anos, no início de 2004. Agora Taryn lança seu primeiro disco, tão rock n' roll quanto o seu show de promoção, em meados do ano passado, no mesmo Centro Cultural Estácio de Sá que tantas vezes abrigou seus shows. Tem música de Frejat, Zeca Baleiro, e "Votos Partidos", com letra inspirada por poesia de James Joyce.

Vale a pena uma visita ao seu site: ele conta o resto da biografia que eu não falei, tem extratos do novo disco para ouvir, e uma "rádio online" com seis músicas cantadas por ela.