sexta-feira, janeiro 06, 2006

Prayer for the dying


Imagem: Primavera, Anuska

Lidar com a vida (ou melhor, com a morte) humana é uma barra. O médico pode optar pela Endocrinologia, e assim se manterá afastado dessa problema na maior parte do tempo. Não é como a Oncologia, a Cirurgia Cardíaca ou a Terapia Intensiva. Mas mesmo o endocrinologista precisará estar ao lado dos seus pacientes à beira da morte.

Sofre o paciente (ou não, com tantos sedativos e analgésicos), sofre a família. E também sofre o médico. Quem pensa que não, lamento muito, vê o médico como um iceberg, montanha insensível de gelo.

Como pedir uma necrópsia? A hora em que a família acaba de se ver diante de um vazio ainda não preenchido é o pior momento, mas o único possível. Por vezes, é inevitável: segundo a Constituição Brasileira, a necrópsia é obrigatória em casos de morte violenta (por causas externas), suspeita ou não assistida. Nos outros casos, o fornecimento do atestado de óbito é obrigação do médico assistente, sendo a necrópsia realizada apenas em caso de autorização da família.

Não dá para culpar alguém por não autorizar. Posso ficar chateado, irritado, sobretudo quando o motivo é nobre, mas eu compreendo. Só espero que não pensem mal de mim por ter tentado. Fiz de tudo, mesmo quando esse tudo é paliativo, que estava ao meu alcance. Mas não está ao meu alcance, em nenhuma hipótese, sobretudo em caso de câncer metastático, fazer de alguém imortal.

A não ser em minha memória.

Vera Lúcia, durma bem.