Um dia de Van Helsing
A chave gira barulhenta na fechadura, uma volta, mais outra e uma terceira. Quem está aí, alguém chora dentro do apartamento. Quem está aí, repete agoniada, a voz trêmula, cada vez mais, de quem o medo já dominou. Quem está aí, um terceiro, irritada com quem está ali e não responde. Desiste de perguntar, encolhida como diminuindo o alvo que sua silhueta forma na escuridão, não quer mais saber, não lhe interessa, teme a resposta.
- O que foi, mãe?
- Ah, meu filho, ainda bem que você chegou. Tem um morc...aaaaaaaaaaah!
Entre gritos e sussurros, aconteceu que um morcego entrou por engano pela janela da cozinha, por engano ou pelos cachos de banana, pelos mamões e mangas amadurecendo fora da geladeira, vai saber, voou desnorteado até o quarto, atrapalhou sua novela, que não era "O Beijo do Vampiro" nem nada. Entre gritos e sussurros, gritos quando o morcego investia pelo corredor, procurando um equivalente ultra-sônico para saída, sussurros quando ele voltava para o quarto, como um segredo que o coitado não pudesse escutar.
- Feche a porta do meu quarto!
- Com o morcego dentro ou fora?
Importante saber. Mas, sem esperar a resposta (óbvia), a porta bateu. Com ele fora, claro. Depois de rodar e rodar pelo corredor, o morcego encontra um outro quarto, com o armário aberto e um canto escuro onde ele pode se sentir em casa. Finalmente, ele deve ter achado, daqui não saio mais, entre roupas e tralhas.
Se achou, errou, porque saiu num instante. O cérebro do homem é maior e computa mais informações por segundo que o do morcego, e por isso, pensando pensando pensando, não tardou a idéia de como fazê-lo ir embora. Blam, faz a porta do armário, num vai-e-vem violento, tão sonoro que deve ter feito um belo estrago nos ouvidinhos sensíveis do morceguinho.
Voa, morceguinho, voa! Com a janela aberta e a cortina arregaçada, o quiróptero a essa hora já está na sua árvore de predileção, procurando sua morceguinha com seus potentes ultra-sons.
- Oh, meu herói!
1 Comments:
Rs... Vc é doido, Phla. Devia ser internado ... rs
Adorei. Imagino a cara da sua mãe....rs
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