domingo, maio 28, 2006

Top 10 Medicações Mais Importantes da História da Medicina

Claudio Szynkier, grande amigo de longa data, bom sujeito apesar de paulista, me pediu um desafio: fazer uma lista com as 10 medicações mais importantes na História da Medicina. Fácil, fácil... E, escolhida a dedo das estantes da farmácia da esquina, ou da Pharmácia do início do século, ou da botica de tempos mais antigos, eis minha seleção, que, como qualquer Top 10, não tem a pretensão de ser definitiva, mas tenta abranger os mais distantes sertões da Medicina.

9. Gás mostarda - incrível constar dessa lista o gás que matou tanta gente na Segunda Guerra Mundial; mas se trata da primeira medicação quimioterápica utilizada no mundo, o primeiro avanço nas pesquisas de tratamento do câncer. E se hoje ele não é mais utilizado, vários esquemas incluem seus derivados, como a ciclofosfamida, também usada como imunossupressor em doenças reumáticas (lúpus) e dermatológicas (psoríase).

8. Morfina - o mais potente analgésico foi (e ainda é) largamente utilizado nas guerras: contra um inimigo bélico, contra o câncer, contra a hérnia de disco... contra qualquer dor incontrolável. Infelizmente é capaz de viciar. Além disso, até por causa dessa particularidade, foi importante para identificar vias endógenas (do próprio organismo) do combate à dor. Em situação de estresse, o organismo produz substâncias capazes de simular a ação da morfina (ou melhor, o contrário: a morfina simula a ação de substâncias endógenas; mas a ordem de descoberta foi invertida).

7. Captopril - tecnologia brasileira, sintetizado na USP-Ribeirão Preto a partir do veneno da jararaca, demoraram para registrar patente e perderam um mercado de 9 bilhões de dólares por ano. Cada vez tem mais aplicações, de hipertensão a proteção renal e cardíaca. Abriu novos horizontes na compreensão da fisiopatologia da hipertensão.

6. Óxido nitroso - o primeiro anestésico geral possibilitou maiores intervenções cirúrgicas. Antes, a dor matava mais que o procedimento propriamente dito; depois, as infecções tomaram o lugar da principal causa de morte pós-operatória. Com um único inconveniente: o óxido nitroso é o famoso gás hilariante. Imagina só o pós-operatório numa enfermaria cheia de pacientes gargalhando! A Odontologia foi responsável pelas primeiras experiências com a substância em humanos. Só rindo mesmo.

5. Zidovudina (AZT) - o primeiro remédio contra o vírus da Aids mudou drasticamente a história natural da doença, abrindo o caminho para novas medicações que, associados, formam o coquetel. Se há 25 anos, no início da epidemia, os pacientes infectados morriam tão logo recebiam o diagnóstico, agora é possível viver décadas com a contagem viral controlada com o coquetel. E ganharam não só em quantidade, mas também em qualidade, com menos infecções oportunistas e recaídas da doença.

4. Aspirina - analgésico, antiinflamatório, antiagregante plaquetário, protetor do endotélio, cada hora surgem novas indicações para um dos mais velhos medicamentos ainda em uso. Seus efeitos são conhecidos desde antes de a substância ser isolada, quando ainda era um "fitoterápico". Apesar de todas essas qualidades, o estômago reclama.

3. Cortisona - o primeiro corticosteróide melhorou o tratamento da dor com tanta eficácia e praticidade que virou uma panacéia. Sem critério na prescrição, logo os efeitos colaterais começaram a aparecer. É um hormônio, e por isso tem efeitos em todos os sistemas do organismo.

2. Penicilina - descoberto por acaso em uma pesquisa com fungos Penicillium, o primeiro antibiótico valeu um Nobel a Alexander Fleming. Proporcionou alívio aos tísicos; e, apesar de hoje em dia a tuberculose ser resistente, ainda encabeça a lista de antibióticos mais usados.

1. Insulina - no início dos anos 20, Frederick Banting e seu aluno Charles Best, para o orgulho canadense, pesquisaram ativamente a fisiologia do pâncreas e acabaram por descobrir e sintetizar a insulina. Em 1923, dividiram o Nobel pela revolução na compreensão do diabetes. A foto mostra Leonard Thompson, o primeiro humano a receber o tratamento.

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Ops... Top 10 com apenas 9 posições?
Sabe o que é... como diz Rob Fleming, em Alta Fidelidade (se não foi ele, bem poderia ter sido, é a cara dele), a última posição é sempre a mais difícil, porque exclui todo o resto que poderia estar na lista.

Se a pergunta for feita para um especialista de cada área, vai obter n respostas diferentes. E talvez por razões de importância diferentes. Poderiam constar na lista:

- Sildenafil (Viagra), Fluoxetina (Prozac): esses são dois medicamentos pop da década de 90. No dia seguinte do lançamento, a população leiga já sabia o nome, para que serve, como se usa. Viraram panacéias mundiais. O que só pode significar que o mundo anda deprimido e broxa.

- Estreptoquinase - extraída do estreptococo, atua como fibrinolítico; ou seja, se administrada em tempo, é capaz de quebrar a placa que provoca o infarto agudo. Foi incluído na lista da Sabrina, Cardiologista.

- Metformina - pessoalmente, esse é o meu 10º lugar de coração, pois, como Endocrinologista, não posso deixar de incluir o medicamento que trata do diabetes tipo 2 em seu exato mecanismo fisiopatológico. Já é uma das doenças mais comuns do mundo, e nesse mundo Supersized a tendência é ser cada vez mais incidente.

Mensagens honrosas:

- Vacina Sabin - não é um remédio, porque não trata nada; pelo contrário, evita que a pessoa fique doente. A poliomielite está erradicada no Brasil há quase 30 anos, e também na maior parte do mundo.

- Vitamina C - Linus Pauling, duas vezes prêmio Nobel, Química e Paz, morreu tentando seu terceiro, de Medicina, em vários estudos sobre efeitos de altas doses de vitamina C no organismo. Em seus últimos dias, tomava mais de 5g por dia, e nem assim conseguiu evitar o câncer de próstata.

sexta-feira, maio 12, 2006

À sombra do jatobá

A mais nova revista literária da internet não apóia o desmatamento, mas desfolha o que vê pela frente. Das cadeiras da faculdade de Letras da Estácio de Sá, campus Barra World, dão às caras o editor-chefe Daniel Moutinho e o staff formado por Daisy Melo, Wander Lourenço, Audemir Leuzinger e o webmaster Gabriel Bozano. Juntos tiveram a idéia e concretizaram a revista Desfolhar. A 1ª edição pode ser acessada no site supralinkado.

Contos, crônicas, poesias, ensaios, artigos, resenhas e colunas.
Contribua você também. Em "contato" se encontram as regras de submissão.

Boa leitura!

sábado, maio 06, 2006

Não como, não como e não como!


- Come, meu filho!
- Não como, mamãe! Eu disse que não fiz nada e você não acredita em mim!
- Meu filho, come! Isso não é motivo... E, além do mais, eu vi o que você fez com o dinheiro que o vovô deu pra você comprar figurinhas. Que coisa mais feia, Toninho, isso não se faz!
- Mas mamãe...
- Anthony William [só mãe muito brava para chamar o filho pelo nome todo], você vai mentir para mim de novo? Coma já a sua comida e não se fala mais nisso. E depois a gente vai conversar muito sério sobre isso.
- Eu não fiz nada...
- Quer dizer [diz, aumentando o tom da voz] que eu estou inventando, ou que estou tendo alucinações, quando vi você distribuir trinta pacotes de figurinha para o Zezinho, o Campos e o Guga, para eles distribuírem para mais um tanto de gente? Quer dizer que você não está distribuindo babalus para as meninas da rua de baixo? A dona Teresinha veio me contar que a Bárbara chegou em casa com 30 caixas de chiclete e não podia dizer onde tinha arrumado. Ela está ficando maluca também?
- Não sei, mãe. Não sei da Bárbara, do Zezinho, do Campos, do Guga... só sei que eu não tenho nada com isso e não vou comer em quando você não se desculpar comigo. A culpa é sempre minha, minha, minha... Eu não agüento mais!
- Devia não agüentar mentir! Você se candidata a representante dos garotos no conselho do condomínio. De repente você e sua namorada...
- A Bárbara, minha namorada? Você está realmente maluca!
- [Schlapp! Já tinha três anos que aquele bumbum gordinho não ganhava uma palmada tão merecida] Olha bem como você fala com a sua mãe, rapazinho!
- Ai, mãe, doeu!
- Era pra doer. Quer dizer então que a Bárbara não é sua namorada? É o que, então, que vocês desaparecem por aí toda tarde, que nem volta pra estudar?
- Isso se chama ficante.
- Ora, ficante, namorada, tudo a mesma coisa. E vê se não muda de assunto, espertinho. Por que você e Bárbara estão distribuindo essas coisas, chicletes e figurinhas?
- O babalu é meu e eu faço o que quiser... o que você tem com isso?
- Você compra com o dinheiro que seu avô te dá, não é pra ficar dando pros outros. Ainda mais em troca de votos! Onde isso vai parar, meu Deus?

Quarenta anos depois...