terça-feira, junho 20, 2006

When I'm sixty-four


When I get older losing my hair, - ainda não, meu caro
Many years from now. - "many years" passam rápido
Will you still be sending me a Valentine. - Linda? não... Heather? também não
Birthday greetings bottle of wine. - aproveite
If I'd been out till quarter to three
Would you lock the door. - pode deixar
Will you still need me, will you still feed me,
When i'm sixty-four. - Sobre o "need", claro, quantos mais discos você compuser. Mas quanto a "feed"...
You'll be older too, - eu nem era nascido...
And if you say the word,
I could stay with you. - pode? A palavra é... please!
I could be handy, mending a fuse
When your lights have gone. - não precisa: basta compor, gravar discos maravilhosos
You can knit a sweater by the fireside - vai ser difícil...
Sunday morning go for a ride, -
Doing the garden, digging the weeds, - duvido que você faça!
Who could ask for more? - é mesmo coisa de velho inglês
Will you still need me, will you still feed me
When I'm sixty-four. - ainda não precisa de alguém pra dar comidinha na boca, né?
Every summer we can rent a cottage,
In the Isle of Wight, if it's not too dear - não ia pegar bem, você e eu
We shall scrimp and save
Grandchildren on your knee
Vera, Chuck and Dave - filhos da Stella?
Send me a postcard, drop me a line, - me dá o endereço que eu mando
Stating point of view
Indicate precisely what you mean to say - "I mean"... você o máximo!
Yours sincerely wasting away
Give me your answer, fill in a form - precisa dessa burocracia toda?
Mine for evermore
Will you still need me, will you still feed me
When I'm sixty-four? - isso não dá não...

Sabe, quando Paul McCartney faz 64 anos, como previu há mais de três décadas e meia, seus contemporâneos reparam como estão ficando velhos, enquanto o ex-Beatle continua inteirão. Eu não... eu nasci 11 anos depois de Sargeant Pepper's Lonely Heart Club Band.

Parabéns, Paul, é de coração, mesmo atrasado.

Aí eu penso: como será quando eu tiver 64 anos? Vou ter alguém que precise de mim, que me alimente? É bom começar a pensar nisso desde já, porque ele compôs a música com a idade que eu tenho hoje.

sábado, junho 17, 2006

Bandeira a meio pau

A bandeira do humor brasileiro está içada a meio pau desde essa madrugada. Na Alemanha já era manhã quando o Bussunda, que certamente faria alguma piada com a minha primeira frase, foi anunciado morto pelos médicos do hotel em que estava hospedado.

A essa altura do dia a notícia só é novidade para os muito mal informados. Eu só soube quando brinquei com um paciente que não infartasse durante o jogo da seleção amanhã. "Que nem o Bussunda", ele respondeu, me pegando desprevinido.

Já há um tempo os Cassetas e Planetas vêm perdendo pouco a pouco a graça que antes tinham. As brincadeiras, os trocadilhos, os personagens se repetem à exaustão; mas como o humor brasileiro não anda muito bem das pernas, ainda são um oásis entre os metidos a engraçadinhos, nesse meio que reconta piadas dos anos 50 em Zorra Total e A Praça é Nossa. E agora, com mais esse choque, o gordinho vai fazer falta!

Substituição: sai o crítico, entra o médico.

Dia após dia vejo inúmeros pacientes como imagino o Bussunda. E não acho que seja só eu. O Rio, o Brasil, o mundo vivem uma epidemia de doenças metabólicas como a obesidade, o diabetes, a hipertensão, a dislipidemia, a gota, por causa - não exclusivamente, que a genética também tem grande parte nesse problema - dos maus hábitos de vida.

Ver alguém vendendo a imagem de um gordinho simpático, como era o Bussunda, como é o Jô Soares, me dá arrepio. Os personagens da mídia, hoje em dia, são exemplos mais importantes que mãe e pai, e mais capazes de influenciar a cabeça de uma nova geração. São pessoas que, pelo menos aparentemente, passam a idéia de que ser gordo é legal; e não falam das conseqüências, sob a forma de remédios e complicações. O cantor americano Barry White e o ator Claudio Correa e Castro morreram hipertensos, diabéticos e com insufucência renal, fazendo hemodiálise.

Que, não apenas sua vida, mas também sua morte, sirva de exemplo de que a obesidade é coisa séria. Bussunda não era diabético ou hipertenso; mas tinha colesterol alto e uma história familiar positiva para doença coronariana (informações do Dr. Flavio Cure Palheiro, médico do humorista, publicadas no Terra).

terça-feira, junho 13, 2006

Dor, objeto direto

Ver, verbo transitivo direto. Eu vejo; o quê? Hoje não houve objeto, oculto pela escuridão absoluta. Ver, conjugado negativo e intransitivo. Não vejo. Ouço, porém, melhor que jamais ouvi, como se cada cone e bastonete, agora inúteis, cada célula do corpo, fossem sensíveis às vibrações do ar. Ouço com pés e mãos, com joelhos e cotovelos, com ânus e pulmões. Ouço cães, e eles latem. Verbo intransitivo colorido de advérbios. Polifonicamente. Em uníssono. Cada vez mais próximos. De um modo tão apavorante que ouço quando o esfíncter relaxa e um líquido quente escorre pelas pernas.

Prevendo os dentes rasgando a pele, imagino o que cada célula capaz de ouvir também pode sentir.

Espelho d'água

As ondas quebravam em seus pés quando ele olhou para o outro lado do rio. Pouco enxergava, distante dali era a margem oposta; mas quando acenou, percebeu que um rapaz lhe acenava de volta, um perdido, talvez, naquela lonjura. Pensativo, olhou para baixo, e o rio lhe devolveu sua imagem refletida; olhou à esquerda, à direita, e encontrou a canoa. Precisava buscá-lo, o rapaz do outro lado, sentiu, e tinha às mãos o necessário. Meteu-se na embarcação e remou, e remou. E depois de tanto remar, já pensando se jamais chegaria do outro lado, viu de perto o tal perdido. E ele tinha os mesmos olhos, e acenava com a mesma mão, que antes vira no espelho d’água.

Foto: Kiti Grobe

Rosebud 2 - A Nova Geração


Rosebud, o blog literário de Vera do Val, se mudou para um novo endereço. Além disso, está se ramificando em mais um novo blog, o Rosebud - Livros, com análises literárias de obras que mereçam a divulgação. Para essa nova empreitada, Vera está acompanhada pela minha presença, embora eu não saiba o que de fato se espera desse modesto blogueiro, Marcelo d'Ávila e Leila Silva.

Eu ainda não estreei, culpa dos muitos afazeres do momento e da minha presente leitura, Dom Quixote, de Miguel de Cervantes, um livro que vai ocupar minha cabeceira por mais uns bons três meses, de tão grande e complexo. E engraçado!

Foto: Kiti Grobe

domingo, junho 04, 2006

Cartão vermelho a quem avança o sinal vermelho


Para que servem os sinais de trânsito do Rio de Janeiro? Generalizo, mas falo mais especificamente da Barra da Tijuca.

Não deve existir qualquer estatística a esse respeito, mas imagino com meus botões que deva acontecer menos acidentes quando os sinais estão desligados. O verde me diz "pode passar", mas isso de nada adianta se o vermelho, na transversal, não disser ao outro motorista que "pare". Alguns dão meia trava, olham para os lados e avançam; a maioria simplesmente passa sem a menor cerimônia, na mesma velocidade que vinham antes; e eu fico sozinho, parado, olhando o retrovisor para ver se um louco não vai acertar minha traseira. Sem sinal, pelo menos, os motoristas da avenida terão preferencial, e quem estiver fazendo retorno necessariamente vai ter que olhar e esperar o momoento de atravessar.

Se, por um lado, em cada esquina mora o perigo de ser assaltado, seqüestrado, morto, o que justifica os avanços, por outro também há o perigo de ser abalroado, capotado, morto. No fim das contas, qual o maior risco? Morrer, eu ainda não morri, de uma forma ou de outra. Mas já fui atingido uma vez no sinal aberto para mim, enquanto nunca fui assaltado. Um a zero.

It's benign


"Tudo está bem quando acaba bem", Shakespeare; ou, como disse Woody Allen em Desconstruindo Harry, "As palavras mais bonitas do inglês não são 'I love you', e sim 'it's benign'".

Sabe o que é um amigo seu, um cara que você conhece há 21 anos (o que, com a minha idade, quer dizer três quartos da minha existência), internar com um mal estar, vômitos e desidratação, e descobrir no dia seguinte que tem um tumor de 7cm na barriga? Pois então... as duas últimas semanas não foram nada fáceis.

Tumor de íleo terminal, ou em português claro, no lugar em que o intestino delgado se encontra com o grosso, pode ser duzentas mil coisas. E quem conhece cada uma das duzentas mil coisas vai sempre pensar no pior. Linfoma, tuberculose, micose disseminada, doença de Crohn... A região é tão rica em tecido linfóide que virtualmente qualquer infecção pode acabar comprometendo esse segmento do intestino.

Mas quando o Marko entrou em cirurgia, só os médicos sabiam do que se tratava. Eu só falei pelo telefone, e fiquei na mesma situação da família. Disseram que era uma apendicite e precisava operar de urgência. "A cirurgia é rápida", a médica falou, "não passa de uma hora". Quatro horas depois, ninguém saía da sala para dar notícia. Todos estavam ansiosos com a situação, "o que estão fazendo com meu filho/namorado/amigo?", quando a equipe deixou o centro cirúrgico.

"Esse é o tumor que eu tirei do Marko", disse o cirurgião, mostrando as fotos da operação em seu Palm para as pessoas que pensavam se tratar de uma apendicite. Tia Sheila, tio Erkki, Clarice empalideceram. "Como assim, um tumor?"

O paciente ainda ficou cinco dias na Unidade Semi-intensiva, mais quatro no quarto, antes de ter alta para casa. Uma parcial da patologia veio diverticulite de Meckel, diagnóstico que se confirmou uma semana mais tarde. De todas as duzentas mil possibilidades diagnósticas, esse é o único que ele está curado. Não só é benigno, como não precisa fazer mais tratamento nenhum.

"É benigno" também é a frase mais bonita do Português.